Amor cego pela Baixa

Por Adriele Ferreira

O compositor Ary Barroso se apaixonou pela Baixa dos Sapateiros (mesmo sem nunca tê-la visitado). Ele é o autor do seguinte verso : "na Baixa dos Sapateiros eu encontrei um dia a morena mais frajola da Bahia".

O lugar recebeu esse nome pela topografia e pelo número de sapateiros que nela começou a se instalar no século XIX atraído pelas lojas que vendiam a matéria-prima, o couro.

A Baixa dos Sapateiros, inicialmente, era chamada de Rua da Vala e foi divinamente reproduzida pelo pintor e arquiteto Diógenes Rebouças. A tela está no memorial que leva o seu nome, no Mosteiro de São Bento e que pode ser visitado.

E os sapateiros?

"Trabalho neste lugar há mais de 20 anos. Meu pai me ensinou a profissão. Vendíamos couro. Hoje, olho tudo isso e me sinto derrotado, não preservaram nossa história, ninguém nem vê mais os sapateiros nas ruas", observa Antonio Jorge, 58, sapateiro e morador do lugar.

"Lembro quando meu pai, nas tardes de domingo, reunia eu e meus irmãos na frente de nossa casa, com uma pilha de sapatos. Nós limpávamos os sapatos enquanto meu pai fazia os consertos. Hoje, fico saudoso do tempo em que os sapateiros eram uma das figuras mais importantes do bairro", disse Júlio Nascimento, 50 anos, também morador da área.