sexta-feira, 21 de março de 2008

Camelódromo contra a carestia




Por Manuela Furtado

Andar pela Baixa dos Sapateiros e não avistar nenhum vendedor ambulante é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa. E foi para organizar o exercício dessa classe de trabalhadores na área que foi fundado em 1999, no governo do então prefeito Antônio Imbassahy, o "camelódromo", dentro do projeto de Ordenamento do Comércio Informal da Prefeitura de Salvador.

E até hoje, o local serve para abrigar sob a sua grande tenda de lona, muitos ambulantes, alguns com anos de trabalho informal na J.J. Seabra. É o caso de Dona Zezilda dos Santos, 71 anos, que trabalha há 40 anos na Baixa dos Sapateiros. Para ela, a única melhora trazida pelo camelódromo em relação à rua, é justamente a cobertura.

“Quando digo isso, não quero dizer que quero voltar para a rua. O comércio está ruim independente do lugar que eu estivesse trabalhando”, disse a comerciante. Vendendo roupas com preços que variam de R$5 a R$ 35, Dona Zezilda tem a sua opinião compartilhada com outros ambulantes.

Maria Soledad, 42 anos, acha que o problema é “que ninguém entra aqui, só em caso de necessidade. Natal era a melhor época para vender, mas a cada ano que passa está pior”, diz ela que vende bolsas e mochilas de R$ 25 a R$ 35, “daquela que é ‘importada’”.

Já a experiente Dona Zezilda tem outra explicação: “Os tempos são outros”.

A história desta senhora se confunde com a da própria Baixa dos Sapateiros, até por ela exercer o tipo de comércio que predomina no local. Com toda simplicidade, Dona Zezilda filosofa sobre as causas do abandono do lugar. Diz que sempre teve um tipo de público específico: o ‘povão’.

Segundo analisa, o local foi abandonado porque “hoje em dia tem comércio em tudo quanto é lugar, então quem é que vai pegar transporte, tendo dinheiro contado, para vir até aqui?”. Falando dos anos felizes que passou nas calçadas da J. J. Seabra, ela lembra de quando vendia suas roupas para uma fiel freguesia e conseguia sustentar seus filhos.

“Aqui tinham grandes lojas, como Feiras dos Tecidos e Pernambucanas. Fechou tudo! Quem sai de sua casa quer ver coisa bonita. Vai para o shopping e vê luxo. Voltar para a Baixa dos Sapateiros com lojas abandonadas, para que?”, conclui.



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